"R136. O primeiro paradigma resulta do mito inicial e do homem-que conhece como animal que luta pela vida, o intelecto sendo um suplemento para obviar à sua fraqueza em tal luta. Luta de forças, entre fracos e fortes (cfP25), o que está em jogo é a conservação da vida (cf.P44), o dano causado: na sua esteira, o homem de razão será caracterizado pela busca de protecção, de segurança (cf. SEQ. XII), pela precisão, necessidade, pobreza, pelo trabalho, pela utilidade, enfim como servidor (SEQ. XIII); enquanto que o homem intuitivo será caracterizado pelo excesso, na alegria e nas festas das saturnais, na liberdade, como na dor (SEQ.XIV), ou seja, como senhor. Servidor ou senhor, consoante a sua relação à linguagem.
R137. É nesta paradigmatica que é introduzido o fingimento ou dissimulação, a Verstellung, e o seu correlato, a ilusão. Prévias à génese, efeito fundamentalmente do intelecto como suplemento, dissimulação e ilusão são prévias assim à verdade, a qual se situa apenas no segundo tempo da génese e será um meio útil de conservação do homem racional, seja o homem de acção, seja o homem da ciência, homem da verdade, pois. Em contraste, o homem intuitivo será o homem da ilusão, da dissimulação, do sonho, do carnaval, do jogo, do mito, da arte, da poesia. É certo que o homem da verdade, submetido aos conceitos, também releva das originárias ilusão e dissimulação, mas esquecido e inconscient de tal por via da génese, sob forma de distorção pela rigidez e regularidade do edifício conceptual. (itálicos nossos)."
Belo, F., Leituras de Aristóteles e de Nietzsche, Lisboa, Gulbenkian, 1994, p.269.
transf. de post de 25/07/08
Sem comentários:
Enviar um comentário