quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Atlântida 3
Pintura de Luís de Barreiros Tavares
Colecção: Luísa Pinto Ramos


" Doravante, a aceleração serve menos para nos deslocarmos facilmente (intervalo) do que para vermos, para entrevermos com maior ou menor nitidez (interface), já que a «alta definição do real» depende exclusivamente da maior ou menor celeridade de transmissão das aparências, e não já apenas da transparência da atmosfera ou dos diversos materiais.

Para compreendermos hoje devidamente a importância do «analisador» que a velocidade representa (em particular, a velocidade audiovisual), há que voltar uma vez mais à sua definição filosófica: «A velocidade não é um fenómeno, é a relação entre os fenómenos», ou por outras palavras a própria relatividade, a transparência da realidade das aparências, mas uma «transparência espácio-temporal» que sucede aqui à transparência espacial da geometria linear das lentes ópticas. Daí o termo de trans-aparência para designar as aparências electronicamente transmitidas, qualquer que seja o intervalo de espaço que as separa do observador; esse observador doravante escravizado, tornado inseparável do objecto observado graças à própria imediaticidade da interface, desse bem nomeado «terminal» que coroa a extensão e a duração de um mundo reduzido à comutação homem-máquina, onde a «profundidade espacial» da geometria perspectivistica cede repentinamente o lugar à profundidade temporal de uma perspectiva em tempo real que substitui aperspectiva renascentista do espaço real."




Virilio, P., A Inércia Polar, trad. Ana Luísa Faria, Lisboa, Dom Quixote, 1993, p.87.

transferido de outro post em 01/08/2008

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