A minha Lista de blogues
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Atlândida 1
Pintura de Luís Tavares
Colecção particular
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Somos sonhados. Isso parece-me plausível. Por quê? Por quem? Não me parecem perguntas importantes...
transferido dum post 25/05/2008
Transferido dum post 25/07/2008
R137. É nesta paradigmatica que é introduzido o fingimento ou dissimulação, a Verstellung, e o seu correlato, a ilusão. Prévias à génese, efeito fundamentalmente do intelecto como suplemento, dissimulação e ilusão são prévias assim à verdade, a qual se situa apenas no segundo tempo da génese e será um meio útil de conservação do homem racional, seja o homem de acção, seja o homem da ciência, homem da verdade, pois. Em contraste, o homem intuitivo será o homem da ilusão, da dissimulação, do sonho, do carnaval, do jogo, do mito, da arte, da poesia. É certo que o homem da verdade, submetido aos conceitos, também releva das originárias ilusão e dissimulação, mas esquecido e inconscient de tal por via da génese, sob forma de distorção pela rigidez e regularidade do edifício conceptual. (itálicos nossos)."
Belo, F., Leituras de Aristóteles e de Nietzsche, Lisboa, Gulbenkian, 1994, p.269.
transf. de post de 25/07/08
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Luz helénica
Ou Atlântida 1
Obra desaparecida
Autor: Luís Tavares
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Transferido de post de 31/07/08
Atlântida 3
Pintura de Luís de Barreiros Tavares
Colecção: Luísa Pinto Ramos
transferido de outro post em 01/08/2008
"Expliquei na minha conferência que o ideal da ciência é obter aquilo a que chamei «síntese computacional dos fenómenos», ou seja, reproduzir, a partir de equações ou de programas de computadores, uma espécie de duplo da realidade empírica. Por exemplo, o ideal da mecânica clássica é utilizar a equação de Newton, resolvê-la através de um grande computador, e obter uma imagem perfeitamente exacta dos anéis de Saturno."
Jean Petitot em entrevista (conduzida por Nuno Nabais), Expresso, 9 de Novembro de 1996.
Trata-se de uma admirável explicação - concisa, exacta, de uma clareza sem mácula - daquilo que a ciência quer: criar uma realidade virtual. Em rigor, é isso que nem a poesia nem a filosofia nem a arte querem ou podem querer.
Desde logo, uma advertência: é de evitar ver nesta apreciação qualquer traço litigioso entre ciência e filosofia; decisivo é, ao invés, sublinhar sem qualquer equívoco o que separa a ciência, assim estabelecida, da filosofia e da poesia. Nesse sentido, é necessário pôr a descoberto a diferença específica entre o mundo tal como a ciência o vê: uma ocasião para a geração, em imagem dupla, de outro mundo em que o primeiro fique integrado, e aquilo que se liberta do mundo pelo esforço de que seja feita uma apresentação poética, filosófica ou artística. Por outras palavras, o grande sonho (bem acordado) da ciência é produzir um mundo que replique, reproduza, o mundo que há, através de modelos e operadores complexos - neste caso, electrónicos -, o que tem como resultado a transformação do mundo que há no mundo a que temos acesso, por meio desses mesmos modelos e operadores. Este resultado final é em tudo contrário ao anseio de que a representação se solte, se descole da própria coisa como outros tantos aspectos da sua fisionomia. E aqui poderíamos evocar, a título de exemplo e para lá das suas especificações irredutíveis, Platão e Goethe, Espinosa, Benjamin ou Wittgenstein; como também é contrário à visão de que a literatura autêntica seja aquela que acabe por abraçar a realidade, recorrendo àquilo a que Hermann Broch chama os «vocábulos de realidade», ou, como igualmente lhes chama Mandelstam, «ornamentos», cuja energia expressiva alimenta a recitação da natureza, i.e, a poesia, isso que é um efeito de uma impotência da alma em absorver a realidade mesma, como de modo excelente nos esclarece Jorge de Sena, ou ainda, por escavação no breu que ameaça sempre devorar-nos, fazer cintilar aquilo que espera também sempre poder cintilar, como diz Giorgio Colli que escavaram Stendhal e Proust, e, uma vez mais ainda, acrescentar um aspecto à nostalgia indestrutível de um mundo melhor, como é o caso de Gerhard rRchter, no momento em que se interroga sobre o valor de uma estúpida demonstração dos pincéis.
O cientista russo Vernadsky retomou uma teoria segundo a qual existiria em volta da terra uma «noosfera»: uma espécie de envelope em que estaria arquivada a memória das culturas. Ela conteria todas as ideias, imagens e concepções desenvolvidas pela humanidade, desde o seu começo até aos nossos dias . Seria preferível entrar em contacto com essa noosfera do que com a Internet.
Veja a história da representação: os dedos traçando sinais na areia, depois com pigmentos nas paredes das cavernas, depois no papel ou noutro material, depois a fotografia, o cinema, o vídeo, as imagens numéricas, a realidade virtual - todos sabemos que a representação se tornou indiscernível do mundo real. Cada vez vivemos mais num mundo construído como o dos sonhos: o que nos faz apreciar melhor os prazeres sensuais do mundo natural, a sua beleza sublime.
Ilya Kabakov e Tm Shannon, respectivamente."
in: Molder, M. F., A Imperfeição da Filosofia, Lisboa, Rel. D'água, 2003, p.128
Leitura:
1. "(...)uma ocasião para a geração, em imagem dupla, de outro mundo em que o primeiro fique integrado(...)
(...) produzir um mundo que replique, reproduza, o mundo que há, através de modelos e operadores complexos (...)
(...) o que tem como resultado a transformação do mundo que há no mundo a que temos acesso (...)
Dir-se-ia haver na ciência a tentativa de surpreender a surpresa do mundo que há de dentro e a do mundo que há de fora («o mundo que há no mundo»). Quer dizer, a ciência parece pretender uma re-produção que surpreenda aquela surpresa do mundo através de um decalque representativo («produzir um mundo que replique, reproduza» (sublinhados nossos)). Enfim, uma vontade de domínio segundo outros moldes (ou outros modelos?).
2. Há aqui uma subtil ironia. É que apesar de e porque (expressão tão utilizada por Vladimir Jankélévitch, «bien que et parce que») " cada vez vivemos mais num mundo construído como o dos sonhos: o que nos faz apreciar melhor os prazeres sensuais do mundo natural, a sua beleza sublime" não deixa de haver, no entanto, uma nuance, não «litigiosa» entre ciência e filosofia. Mas como que um apelo a um relance de dados, pois também há «a imperfeição da filosofia».
Transferido de outro post 04/08/2008
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Carlos Castaneda, A Roda do Tempo, citação de O Poder do Silêncio, Nova Era, Rio de Janeiro, p.294.
A nossa «auto-imagem» não deve ser uma imagem fotográfica ou uma imagem de retrato (de fachada), quer dizer de «embromação». Nem uma imagem de «encantamentos» (de adorno, de enfeite, etc.). Ela deverá ser um movimento de ressalto destes efeitos gorados. Uma extra-sensação, um sopro de extra-sensações, de extra-percepções abstractas na sua descolagem desafectada. Estas extra-sensações abstractas re-configuram outra imagem sempre reenviada num livre-trânsito (usando uma metáfora, como nos passes sociais dos transportes). Uma espécie de co-presença (presença a si) do corpo. Todavia, co-presença invisível no sentido de não ser do plano da vulgar visualização (da trivial auto-visualização).
A visualização, a surgir, só surge quando o novo olhar de um outro-novo «nada», ou de um «vazio», de um invisível que já não assusta - que já não é o vazio ou nada do niilismo ocidental ("o niilismo, o mais temível de todos os hóspedes", Heidegger, Carta Acerca do Humanismo), da «ignorância abissal» (Castaneda), mas o olhar da co-presença do corpo (corpo-olhar), do corpo não re-presentado como dado adquirido, mas de um in-visível que é o não figurado, in-visível que atravessa agora o visível. A visualização só surge, dizia, quando este novo olhar é a imagem do próprio olhar. A visualização só surge quando o corpo olha. Ou antes, quando o olhar é feito corpo. Não propriamente enquanto corpo projectado, mas à maneira do que releva do facto real de que o cosmos nos reflecte. Este é como se sabe um dos pontos de vista da teoria do corpo espelho.
Aqui o olhar é mais do que o ver. É mais do que ele; não porque o ultrapasse, mas porque já não visa o «ver sempre ainda mais» que é o risco que o ver tende sempre a correr.
E no entanto, mais fulgurante do que isto não será escutar o seu silêncio?
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Empédocles
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Atlântida 5
Pintura de Luís Tavares
Colecção privada
Fr. 17, 1-13, Simplicius Phys. 158, 1
Kirk, G.S., & Raven, J.E., The Presocratic Philosophers, University Press, Cambridge, 1975.
" Vou contar uma dupla história: de uma vez cresceu para ser um só a partir de muitos, de outra, dividiu-se de novo para ser muitos a partir de um. Há um duplo nascimento das coisas mortais e um duplo deixar de existir. Um é gerado e depois destruído, pela junção de todas as coisas, o outro cresce e é espalhado à medida que as coisas de novo se dividem. E estas coisas nunca cessam o seu mover contínuo, ora convergindo num todo, graças ao Amor, ora cada uma separada das outras pela Discórdia. (Assim, na medida em que aprenderam a fazer-se num a partir de muitos) e de novo, quando esse um está separado, são uma vez mais muitos, assim nascem e não têm vida duradoura; mas, na medida em que nunca cessam a intermutação contínua de lugares, nessa medida eles são sempre imutáveis no ciclo."
Empédocles, Fr.17, 1-13, in Simplício, Phys., 158,1
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Trad.: Kirk e Raven, Os Filósofos Pré-Socráticos, trad. C.A.L. Fonseca, B.R. Barbosa, M.A.Pegado, Gulbenkian, Lisboa.
"But come, hearken to my words; for learning increaseth wisdom. As I said before when I declared the limits of my words, a double tale will I tell: at one time is grew to be one only from many, at another it divided again to be many from one, fire and water and earth and the vast height of air, dread Strife too, apart from these, everywhere equally balanced, and Love in their midst, equal in lenght and breadth. On her to thou gaze with the mind, and sit not with dazed eyes; for she is recognized as inborn in mortal limbs; by her they think kind thoughts and do the works of concord, calling her Joy by name and Aphrodite. Her does no mortal man know as she whirls around amid the others; but do thou pay heed to the undeceitful ordering of my discourse. For all these are equal, and of like age, but each has a different prerogatif and its own character, and in turn they prevail as time comes round. And besides these nothing else comes into being nor ceases to be; for if they were continually being destroyed, they would no longer be; and what could increase this whole, and whence could it come? And how could these things perish too, since nothing is empty of them? Nay, there are these things alone, and running through one another they become now this and now that and yet remain ever as they are."
Fr.17, 1. 14, Simplicius Phys. 158,13 (continuing Fr. 1. 17, 1-13)
Op.cit.
" Mas anda, atenta nas minhas palavras; pois aprender aumenta a sageza. Como disse anteriormente, quando declarei os limites das minhas palavras, vou contar uma dupla história: de uma vez, cresceu para ser um só a partir de muitos, doutra, dividiu-se outra vez para ser muitos a partir de um, o fogo e a água e a terra e a vasta altura do ar, e também a discórdia temível separada destes, em toda a parte igualmente equilibrada, e o amor no meio deles, igual em comprimento e largura. Para ele olha com o espírito e não fiques com os olhos ofuscados; pois ele é reconhecido como inato nos membros imortais; por ele são eles capazes de pensamentos bons e de praticar obras de concórdia, dando-lhe o nome de Alegria e a Afrodite. Nenhum homem mortal o conhece, quando ele rodopia no meio dos outros; mas presta atenção à ordenação do meu discurso que não engana. Pois todos estes são iguais e de idade igual, mas cada um tem uma prerrogativa diferente e o seu próprio carácter, e prevalece cada um, por sua vez, à medida que o tempo gira. E além destes, nada mais se gera nem cessa existir; porque se estivessem a ser continuamente destruídos, já não existiriam; e o que poderia aumentar este todo e de onde poderia vir? E como poderiam estas coisas perecer também, visto que nada está vazio delas? Não, há somente estas coisas, e correndo umas pelas outras, elas tornam-se umas vezes isto, outras aquilo, e permanecem, contudo, sempre como são."
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Empédocles, Fr.17, v.14, in Simplício, Phys., 158, 13 (continuação de Fr.17, 1-13)
Trad.: Op.cit.
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