A minha Lista de blogues
terça-feira, 22 de março de 2011
Um homem tão rápido como eu não podia ser senão outro eu
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(...)
Lucky Luke deparando-se surpreendido com o seu reflexo num espelho na penumbra da casa de um rancho assombrado.
Lucky Luke: “Há aqui gente!”. Pam! (dispara no espelho)
Dziing (o espelho estilhaça-se).
Lucky Luke: “Um espelho”.
Lucky Luke volta-se para o leitor: “Um homem tão rápido como eu não podia ser senão outro eu.”
(...)
In: O rancho maldito, por Facha – J. Léturgie – Claude Guy Louïs.
Lucky Luke: “O homem que atira mais rápido que a sua sombra”.
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domingo, 20 de março de 2011
É tão vesgo que é incapaz de entrar por uma janela : como vê duas, entra na do meio (…)
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«(…)
BLAM. Au!...?!
Os dois rebeldes: O que é? Não sei!
Legenda do narrador: Alguns segundos mais tarde…
Pombo correio (legenda em surdina): Tal… Talvez seja formidável, este instinto, mas continua a ser impreciso!
Um dos rebeldes: É apenas um idiota de um pombo com um galo na cabeça!
O outro rebelde: Bom, já compreendi, é o pombo do Prabang: deve trazer uma mensagem…
Trá-lo para aqui, depressa!
O primeiro rebelde: O.K. !
O segundo rebelde: É um pombo atrozmente estrábico… É tão vesgo que é incapaz de entrar por uma janela: como vê duas, entra na do meio (…)
O pombo em surdina: Só havia uma janela?!
(…)»
BD. Fournier, As Aventuras de Spirou e Fantásio: O Inspector da Mafia, Lisboa, Trad. Maria Isabel Roseiro, Edit. Publica, 1983, pgs.36 e 37.
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sábado, 19 de março de 2011
Deixe a cadeira sossegada.. se me atirar com ela, ela ricocheteará no mesmo obstáculo e, além disso, poderia aleijá-lo, o que muito me desolaria!
[…]
Com um sorriso sardónico nos lábios, o doutor Septimus está plantado à sua frente…
D.Septimus.: Então, meu caro… fez-lhe bem, esse sono reparador? A propósito: sabia que ressona?...
Mortimer : Hem? O que é que?...
D.Septimus: Agora a sério, meu caro professor. Foi muito amável em ter vindo entregar-se nas minhas mãos, quando eu me preparava para conseguir o mesmo com a ajuda de sábias maquinações…
Bruscamente, Mortimer, furibundo, corre para Septimus, mas…
Mortimer: Canalha !!!...
D.S.: !
Ainda não tinha [Mortimer] dado três passos quando choca contra um obstáculo invisível.
Mortimer: Ooh
D.Septimus: Ah! Ah! Ah! O que acha da minha cortina electromagnética?... Uma pequena invenção minha. É muito prática, como vê, para acalmar pessoas nervosas!...
Mortimer: ?
Mortimer põe-se de pé e, ameaçador, pega numa cadeira. Mas Septimus aconselha-o…
D.Septimus: Deixe a cadeira sossegada.. se me atirar com ela, ela ricocheteará no mesmo ostáculo e, além disso, poderia aleijá-lo, o que muito me desolaria!
[…]
Edgar P. Jacobs, A Marca Amarela
As aventuras de Blake and Mortimer
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quinta-feira, 17 de março de 2011
Where can I find a man who had forgotten words? He is the one I would like to talk to.
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tinta da china em papel
luís tavares
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“The purpose of a fish trap is to catch fish,
And when the fish are caught, the trap is forgotten.
The purpose of a rabbit snare is to catch rabbits.
When the rabbits are caught, the snare is forgotten.
The purpose of words is to convey ideas.
When the ideas are grasped, the words are forgotten.
Where can I find a man who had forgotten words?
He is the one I would like to talk to.”
Chuang-Tzu
David Schiller, The Little Zen Companion, Workman Publishing, New York, 1994, p.58.
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Vladimir: O tempo parou. Pozzo: (Encostando o relógio ao ouvido) O senhor não acredite nisso, não acredite nisso. (Volta a pôr o relógio no bolso) Tu
“Vladimir: Será que nunca mais é noite?
Olham os três para o céu.
Pozzo: Só se vão embora quando for noite?
Estragon: Quer dizer –
Pozzo: Mas é natural, é perfeitamente natural. Eu próprio, se estivesse na vossa situação, se tivesse um encontro marcado com um Godin… Godet… Godot… ou lá como é, eu próprio só desistia quando ficasse noite bem escura. (Olha para o banco.) Apetecia-me mesmo sentar, mas não sei bem como é que devo fazer.
Estragon: Posso ajudá-lo?
Pozzo: Se calhar se me pedisse.
Estragon: O quê?
Pozzo: Se me pedisse para eu me sentar.
Estragon: Isso ajudava?
Pozzo: Creio que sim.
Estragon: Então vamos lá. Sente-se, meu senhor, faça o obséquio.
Pozzo: Ai não, não, nem pensar! (Pausa. Aparte.) Peça outra vez.
Estragon: Vá lá, sente-se, eu insisto, ainda apanha uma pneumonia.
Pozzo: Acha mesmo?
Estragon: Tenho a certeza absoluta.
Pozzo: Tem toda a razão. (Senta-se) Cá estou eu outra vez! (Pausa) Muito obrigado, meu caro. (Consulta o relógio) Mas, se quero cumprir o meu horário, tenho mesmo de me ir embora.
Vladimir: O tempo parou.
Pozzo: (Encostando o relógio ao ouvido) O senhor não acredite nisso, não acredite nisso. (Volta a pôr o relógio no bolso) Tudo o que quiser, mas isso não.
Estragon: (para Pozzo) Ele hoje vê tudo negro.
Pozzo: Excepto o firmamento! (Ri satisfeito com a sua frase)
(…)
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Samuel Beckett, À Espera de Godot, Trad. J.M.V.Mendes, Lisboa, Cotovia, 2002, p.50.
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« (…) Minetti:
O mergulho de cabeça na obra de arte
minha senhora
de cabeça
Com o objecto do espírito
contra o lixo do espírito
com a obra de arte
contra a sociedade
contra a boçalidade
(Esgrimindo com o chapéu-de-chuva no ar, subitamente)
Persegui-los
(Cabisbaixo)
Enfiar o barrete do espírito
na cabeça da boçalidade
(Alto, indignado)
Com o barrete do espírito
estrangular a boçalidade
a sociedade
tudo
estrangulado com o barrete do espírito
Maquinar um grande espectáculo
enfiar o barrete do espírito na cabeça da boçalidade
(…) »
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Teatro. Thomas Bernhard, Minetti, trad. João Barrento, Lisboa, Ed. Cotovia, 1990, p.40.
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segunda-feira, 7 de março de 2011
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1.
“Vladimir: Será que nunca mais é noite?
Olham os três para o céu.
Pozzo: Só se vão embora quando for noite?
Estragon: Quer dizer –
Pozzo: Mas é natural, é perfeitamente natural. Eu próprio, se estivesse na vossa situação, se tivesse um encontro marcado com um Godin… Godet… Godot… ou lá como é, eu próprio só desistia quando ficasse noite bem escura. (Olha para o banco.) Apetecia-me mesmo sentar, mas não sei bem como é que devo fazer.
Estragon: Posso ajudá-lo?
Pozzo: Se calhar se me pedisse.
Estragon: O quê?
Pozzo: Se me pedisse para eu me sentar.
Estragon: Isso ajudava?
Pozzo: Creio que sim.
Estragon: Então vamos lá. Sente-se, meu senhor, faça o obséquio.
Pozzo: Ai não, não, nem pensar! (Pausa. Aparte.) Peça outra vez.
Estragon: Vá lá, sente-se, eu insisto, ainda apanha uma pneumonia.
Pozzo: Acha mesmo?
Estragon: Tenho a certeza absoluta.
Pozzo: Tem toda a razão. (Senta-se) Cá estou eu outra vez! (Pausa) Muito obrigado, meu caro. (Consulta o relógio) Mas, se quero cumprir o meu horário, tenho mesmo de me ir embora.
Vladimir: O tempo parou.
Pozzo: (Encostando o relógio ao ouvido) O senhor não acredite nisso, não acredite nisso. (Volta a pôr o relógio no bolso) Tudo o que quiser, mas isso não.
Estragon: (para Pozzo) Ele hoje vê tudo negro.
Pozzo: Excepto o firmamento! (Ri satisfeito com a sua frase)
(…)
Samuel Beckett, À Espera de Godot, Trad. J.M.V.Mendes, Lisboa, Cotovia, 2002, p.50.
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Estudo-versão-cromática-azul-avioletado a partir de 'bodegón' (natureza morta, 1946) de Picasso.
Acrílico sobre prancha de cartão entelado, 23x35+-, 2002.
By L.Tavares
Col. privada.
"Os flancos e o fundo - aquilo em que consiste a vasilha e pelo qual ela se mantém de pé - não são, propriamente falando, o que contém. Mas se o continente reside no vazio da vasilha, então o oleiro, que, sobre o seu torno enforma os flancos e o fundo, não fabrica, propriamente falando, a vasilha. Ele somente dá forma à argila. Que digo eu? Ele dá forma ao vazio. É para o vazio, é nele e a partir dele que enforma a argila para dela fazer uma coisa que tem forma. O oleiro alcança primeiro e alcança sempre o inalcançável do vazio, ele o produz como um continente e lhe dá a forma dum vaso."
"A coisa" in Martin Heidegger, Essais et conférences, trad. André Préau, Paris, Gallimard, p.199, 1995.
Tradução do trecho: Luís Tavares
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domingo, 6 de março de 2011
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“ Prof. Girassol: Bom! Como fazemos então para não nos esborracharmos contra a Lua?... Simplesmente obrigar nosso foguete a dar meia volta… para isso basta desligar o propulsor principal e pôr em acção um reator lateral… Uma vez o foguete virado, o jacto do nosso motor atómico será dirigido para a Lua, contendo a nossa descida, o que, se tudo correr bem, nos permitirá alunissar com suficiente lentidão… Compreende?...
Capitão Haddock: Sim, acho que seria uma repetição da partida, mas ao contrário…”
Versão brasileira (1970)
Outra versão:
Prof. Girassol:«Bom! Então que fazer para não nos irmos esmagar na lua? …Muito simplesmente voltar o foguetão, isto é, fazê-lo virar os pés para a cabeça… Para isso, basta primeiro, parar o propulsor principal e, depois, pôr em marcha o reactor lateral… Uma vez o foguetão virado, o jacto do motor atómico será dirigido para a Lua e travará a descida, o que nos permitirá, se tudo correr bem, alunar docemente… Está a perceber?...
Capitão Haddok: Em suma, se bem percebo, é a mesma coisa que para a partida, com a diferença de que é exactamente o contrário!»
In «As Aventuras de Tintim» de Hergé, Explorando a Lua (versão publicada pelo Jornal “Público”
sexta-feira, 4 de março de 2011
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«Cush: “ Estou à vossa espera desde ontem.”
“Ah… És tu, Cush… Tens razão, mas tivemos de fazer um longo desvio, para não encontrarmos as patrulhas turcas e os Benilahej.”
Cush: “Ugh! Não é verdade que está escrito: Justificares-te não te trará camelos de recompensa?... É inútil explicares as razões do teu atraso. Estás atrasado e chega.”
“Sim, mas no Surate 10 está escrito: o amigo não censurará o amigo. E agora chega de toda esta história (…)”»
In: “As Etiópicas”, p.8. Corto Maltese, Por Hugo Pratt.
(...)
Corto Maltese: «Pois foi…É verdade que o abandonei… Mas porque é que não o deveria ter feito?... Por amizade?... Por lealdade?... Mas o que estou para aqui a dizer…
Não tenho que me justificar perante ninguém… Ouvem-me? Escapei-me! Tive medo de morrer e escapei-me…
… E escapar-me-ei todas as vezes que quiser… Vão todos para o inferno!...
Uma pedra rola: «sock!»
Não sou um herói…
Sou como os outros… E tenho o direito de me enganar como toda a gente… Tranquilamente, sem ter de fazer um exame de consciência todas as vezes…»
Corto Maltese, Op.cit., p.17.
-
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quinta-feira, 3 de março de 2011
"Oh! il est Logicien!"
"(...)
Le Logicien, sortant de sa réserve.
Messieurs, excusez-moi d'intervenir. Là n'est pas la question. Permettez-moi de me présenter...
La Ménagère, en larmes.
C'est un Logicien!
Le patron
Oh! il est Logicien!
Le vieux monsieur, présentant le Logicien à Bérenger.
Mon ami, le Logicien!
Bérenger
Enchanté, Monsieur.
Le Logicien, continuant.
...Logicien professionnel: voici ma carte d'identité.
Il montre sa carte
Bérenger
Très honoré, Monsieur.
L'Épicier
Nous sommes très honorés.
Le patron
Voulez-vous nous dire alors, monsieurs le Logicien, si le rhinocéros africain est unicornu...
Le vieux monsieur
Ou bicornu...
L'épicière
Et si le rhinocéros asiatique est bicornu.
L'épicier
Ou bien bicornu.
Le logicien
Justement, là n'est pas la question. C'est ce que je me dois de préciser.
L'épicier
C'est pourtant ce qu'on aurait voulu savoir.
Le logicien
Laissez moi parler, Messieurs.
Le vieux monsieur
Laissons-le parler.
L'épicière, à l'Épicier, de la fenêtre
Laisse-le donc parler.
Le patron
On vous écoute, Monsieur.
Le logicien, à Bérenger.
C'est à vous, surtout, que je m'adresse. Aux autres personnes présentes aussi.
L'épicier
À nous aussi...
Le logicien
Voyez-vous, le débat portait tout d'abord sur un problème dont vous vous êtes malgré vous écarté. Vous vous demandiez, au départ, si le rhinocéros qui vient de passer est bien celui de tout à l'heure, ou si c'en est un autre. C'est à cela qu'il faut répondre.
Bérenger
De quelle façon?
Le logicien
Voici: vous pouvez avoir vu deux fois un même rhinocéros portant une seule corne...
Lépicier, répétant, comme pour mieux compreendre.
Deux fois le même rhinocéros.
Le patron, même jeu.
Portant une seule corne...
Le logicien, continuant.
...Comme vous pouvez avoir vu deux fois un même rhinocéros à deux cornes.
Le vieux monsieur, répétant.
Un seul rhinocéros à deux cornes, deux fois...
Le logicien
C'est cela. Vous pouvez encore avoir vu un premier rhinocéros à une corne, puis un autre, ayant également une seule corne.
L'épicière, de la fenêtre.
Ha,ha...
Le logicien
Et aussi um premier rhinocéros à deux cornes, puis un second rhinocéros à deux cornes.
(...)"
Eugène Ionesco, Rhinocéros, Paris, Folio, 2008
Na foto: Ionesco.
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Et « Orient » en portugais : « Portugal » !
-
"(...)
L'élève
J'ai mal aux dents.
Le professeur
Je dis donc: dans certaines expressions, d'usage courant, certains mots diffèrent totalement d'une langue à l'autre, si bien que la langue employée est, en ce cas, sensiblement plus facile à identifier. Je vous donne un exemple : l'expression néo-espagnole célèbre à Madrid : « ma patrie est la Néo-Espagne », devient en italien : «ma patrie est...
L'élève
La Néo-Espagne.»
Le professeur
Non ! « Ma patrie est l'Italie. » Dites-moi alors, par simple déduction, comment dites-vous « Italie» en français?
L'élève
J'ai mal aux dents!
Le professeur
C'est pourtant bien simple : pour le mot «Italie», en français nous avons le mot «France» qui en est la traduction exacte. « Ma patrie est la France.» Et «France» en oriental: «Orient»! «Ma patrie est l'Orient.» Et «Orient» en portugais: «Portugal»! L'expression oriental: «ma patrie est l'Orient» se traduit donc de cette façon en portugais : « ma patrie est le Portugal»! Et ainsi de suite...
L'élève
Ça va! Ça va! J'ai mal ...
Le professeur
Aux dents! Dents! Dents!.. Je vais vous les arracher, moi! Encore un autre exemple. (...)"
Eugène Ionesco, La leçon, Paris, Folio, 2008, p.73
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