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Estudo das
botas de camponesa de Van Gogh
Acrílico sobre tela sintética colada em tábua, 25x35cm +-.
Pintura de Luís Tavares
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Na escura abertura do interior gasto dos sapatos, fita-nos a dificuldade e o cansaço dos passos do trabalhador. Na gravidade rude e sólida dos sapatos está retida a tenacidade do lento caminhar pelos sulcos que se estendem até longe, sempre iguais, pelo campo, sobre o qual sopra um vento agreste. No couro, está a humidade e a fertilidade do solo. Sob as solas, insinua-se a solidão do caminho do campo, pela noite que cai. No apetrecho para calçar impera o apelo calado da terra, a sua muda oferta do trigo que amadurec e a sua inexplicável recusa na desolada improdutividade do campo no Inverno. Por este apetrecho passa o calado temor pela segurança do pão, a silenciosa alegria de vencer uma vez mais a miséria, a angústia do nascimento iminente e o tremor ante a ameaça da morte. Este apetrecho pertence à
terra e está abrigado no mundo da camponesa. É partir desta abrigada pertença que o próprio produto surge para o seu repousar-em-si-mesmo.
Martim Heidegger,
A Origem da Obra de Arte, trad. M. Conceição Costa, Ed. 70, 1992, p.25.